O mercado imobiliário brasileiro tem passado por transformações significativas, com uma crescente participação e influência de diferentes perfis de consumidores. Ao analisar o cenário por gênero, emergem padrões distintos no comportamento de busca, compra, locação e investimento.
Parte 1: Perfil Geral e Comparativo (Compradores e Locatários)
A presença feminina no mercado imobiliário é notavelmente influente, especialmente nas etapas iniciais de busca e na decisão final.
- Busca por Imóveis: Mulheres lideram significativamente as buscas por imóveis no Brasil. Segundo dados do DataZAP+ e OLX, 62% das buscas de imóveis para compra e locação são realizadas por mulheres. Este dado aponta para uma proatividade feminina na etapa de pesquisa, fundamental para o processo de decisão.
- Poder de Decisão: As mulheres são as principais decisoras na hora de comprar ou alugar um imóvel. Uma pesquisa da Brain Inteligência Estratégica revela que as mulheres são responsáveis por 41% das decisões de compra de imóveis no Brasil. Curiosamente, 15% das mulheres entrevistadas afirmaram que seus companheiros não contribuíram na escolha do imóvel, sendo elas as únicas a decidir, enquanto para homens, esse número foi de 6,8%.
- Processo de Decisão:
- Mulheres: Tendem a ser mais racionais, pesquisam mais, têm maior paciência para escolhas difíceis e se preocupam com detalhes que afetam o dia a dia e a rotina da família (mesmo que o imóvel esteja vazio). Elas visualizam melhor o ambiente e estão mais atentas à qualidade dos acabamentos (paredes, portas, embutidos, torneiras e rejuntes), facilitando a identificação de problemas como infiltrações. Valorizam o suporte oferecido na escolha do imóvel.
- Homens: Geralmente abordam a compra focando em informações mais globais, como tamanho, tipo de imóvel e número de quartos. Podem ser mais emocionais em alguns aspectos, mas tendem a entrar em contato com o imóvel apenas se preencherem características amplas.
- Preferências e Prioridades:
- Mulheres:
- Tipo de Imóvel: Cerca de 8 em cada 10 compradoras buscam imóveis usados, embora a Geração Z demonstre mais interesse em lançamentos (17%). A busca por apartamentos é maior entre moradoras de capitais (59% locatárias e 43% compradoras), enquanto a procura por casas de rua é mais visada por residentes de regiões metropolitanas e do interior.
- Metragem: A área útil mais visada é entre 61m² e 90m² (44% das respondentes, 59% da Geração Z).
- Fatores Essenciais: Segurança é um pré-requisito para 98% das compradoras. Localização (próxima ao trabalho, com fácil acesso a transporte público e áreas verdes) e boa conservação dos imóveis são cruciais. A vaga de garagem é essencial para 91% das entrevistadas, especialmente para as casadas (95%).
- Homens: Informações mais limitadas, mas cerca de 3 em cada 4 preza por ter uma vaga de garagem.
- Mulheres:
- Forma de Pagamento (Mulheres): O financiamento imobiliário é a forma de pagamento preferida para 53% das mulheres compradoras.
- Perfil do Comprador (Geral – Harry/Casa Mineira): Embora não haja um detalhamento exato por gênero para todos os perfis, algumas pesquisas indicam que o mercado imobiliário é dominado por homens, que representam 56% dos compradores, enquanto as mulheres compõem 44%. No entanto, a alta influência feminina na decisão é um fator que deve ser considerado. Em mercados como o do Rio de Janeiro, 67% dos compradores são homens, e em Florianópolis, 87% são homens, o que pode indicar variações regionais.
Parte 2: Investimentos, Influência e Valor Geral de Vendas (VGV)
A análise da participação por gênero em investimentos diretos em imóveis e no VGV (Valor Geral de Vendas) é menos granular nos dados públicos, mas a influência feminina é inegável.
- Investimentos Imobiliários: Embora os dados de investimento imobiliário disponíveis frequentemente se concentrem em Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs) e tendências gerais do mercado (como INCC-M, IMOB, VGL, VGV), sem um recorte direto por gênero do investidor pessoa física em imóveis físicos, a crescente participação feminina no mercado imobiliário como um todo sugere uma evolução também nesse segmento. As mulheres estão cada vez mais atuando como líderes e investidoras no setor.
- Influência no VGV: O Valor Geral de Vendas (VGV) representa a soma total estimada das vendas de todas as unidades de um empreendimento. Embora não haja um VGV dividido por gênero, a alta influência das mulheres na decisão de compra (sendo as principais decisoras) implica que o VGV final é significativamente influenciado pelo perfil, necessidades e preferências femininas. Ou seja, as características que levam as mulheres a decidir por um imóvel (segurança, localização, detalhes, conservação) contribuem diretamente para a concretização das vendas e, consequentemente, para o VGV do empreendimento.
- Participação Profissional no Mercado Imobiliário: Além de consumidoras, as mulheres estão cada vez mais presentes como profissionais no setor. Em 2021, cerca de 43% dos profissionais do mercado imobiliário no Brasil eram mulheres. Esse número tem aumentado, e a presença feminina na corretagem imobiliária é vista como um fator que enriquece o ambiente de trabalho com profissionalismo, empatia e habilidade de comunicação, além de contribuir para um mercado mais inclusivo. A capacidade multitarefa e a adaptação a ferramentas digitais e ao trabalho remoto (como o modelo home-based) facilitam a atuação feminina e a conciliação entre trabalho e maternidade.
Em síntese, o mercado imobiliário brasileiro demonstra uma forte e crescente influência feminina, que se manifesta desde a proatividade na busca e pesquisa até o poder decisório e a participação profissional no setor. Compreender essas dinâmicas é crucial para imobiliárias e corretores que buscam atender de forma mais eficaz e estratégica a este público consumidor.
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