Engenharia do Consentimento, corretoras preparadas não são enganadas

A Engenharia do Consentimento (do inglês, The Engineering of Consent) é um conceito seminal no campo das Relações Públicas e da manipulação da opinião pública, desenvolvido em meados do século XX.


Autor e Publicação

O autor principal e criador do termo é Edward Louis Bernays (1891–1995).

  • Quem foi: Bernays é amplamente considerado o “Pai das Relações Públicas” e sobrinho de Sigmund Freud. Ele foi o pioneiro na aplicação das teorias psicológicas de Freud (sobre o inconsciente e os desejos humanos) para manipular atitudes e comportamentos de massa.
  • Publicação Chave: O conceito foi formalmente estabelecido no ensaio “The Engineering of Consent”, publicado na revista The Annals of the American Academy of Political and Social Science em 1947.

Descrição e Princípios

Bernays descreveu a Engenharia do Consentimento como o uso de uma abordagem de engenharia — ou seja, ação baseada apenas em um conhecimento profundo da situação e na aplicação de princípios científicos e práticas testadas — para conseguir que as pessoas apoiem ideias e programas.

O objetivo não é a coerção ou a manipulação óbvia, mas sim o planejamento estratégico e científico da comunicação para obter o consentimento (apoio, aceitação) das massas para uma determinada ideia, produto ou agenda política, de forma que o público sinta que a decisão é sua.

Os principais princípios da abordagem de Bernays incluem:

  1. Irracionalidade Humana: Bernays partia da premissa de que os seres humanos são motivados primariamente por impulsos e desejos inconscientes (uma influência direta da psicanálise de Freud), e não pela razão pura. A comunicação deve apelar a essas emoções.
  2. O Público como Agregado: A sociedade democrática é vista como um agregado solto de grupos constituintes. Para influenciar o público, é preciso trabalhar através de líderes de grupo e formadores de opinião em todos os níveis.
  3. Criação de Notícias: O engenheiro do consentimento precisa criar notícias e eventos que se destaquem da rotina. Notícias são a evidência que, por sua vez, moldam atitudes e ações das pessoas.
  4. Pesquisa Científica: A abordagem deve ser sistemática e baseada em pesquisa para entender:
    • O que o público sabe.
    • Quais são suas atitudes atuais.
    • Quais são os impulsos que governam essas atitudes (desejos e medos subconscientes).

Aplicação

A Engenharia do Consentimento se aplica a qualquer área onde seja necessário moldar a percepção pública em grande escala:

Área de AplicaçãoExemplo Histórico (Bernays)Objetivo da Aplicação
Relações Públicas/MarketingCampanhas para tornar o bacon uma “parte essencial” do café da manhã americano, ligando-o a um desejo inconsciente de força e saúde.Venda de Produtos: Criar uma demanda de massa, muitas vezes associando um produto a um desejo psicológico (status, liberdade, poder).
PolíticaCampanha para convencer o público americano a entrar na Primeira Guerra Mundial (trabalho inicial de Bernays para Woodrow Wilson).Obtenção de Apoio Político: Fazer com que o público aceite políticas, decisões ou intervenções (guerras, leis, reformas) como sendo do seu próprio interesse, mesmo que contradigam a razão.
Mudança de Normas SociaisCampanhas para encorajar mulheres a fumar em público, ligando cigarros aos conceitos de “tochas da liberdade” (libertação feminina).Alteração Comportamental: Modificar comportamentos e tabus sociais para atender aos objetivos do cliente (que podia ser uma empresa de tabaco).

Em essência, a Engenharia do Consentimento representa uma forma poderosa e controversa de usar a psicologia e a comunicação para gerenciar e dirigir a mente de massa em sociedades democráticas, sem a necessidade de força explícita.


Saber que a Engenharia do Consentimento existe é o primeiro e mais poderoso passo para se proteger contra ela. Para as corretoras da IMOBILIÁRIA DA MULHER — que precisam de clareza para aconselhar suas clientes investidoras — a blindagem deve ser estratégica e focada em dados, e não na emoção.

A Engenharia do Consentimento prospera na emoção, no medo e na euforia. A blindagem consiste em buscar a razão e os fatos.

Aqui estão as estratégias essenciais para as corretoras se protegerem da manipulação:


1. Desconfie da “Notícia” e do “Consenso”

O engenheiro do consentimento (seja um grande incorporador, banco ou mídia) cria a “notícia” para gerar um consenso artificial.

  • Questione a Fonte Emocional: Sempre que o mercado estiver em euforia (“Qualquer coisa que você comprar vai valorizar!”) ou em pânico (“O mercado vai despencar!”), pare e pergunte: Quem está se beneficiando dessa emoção? O consenso (a maioria das pessoas falando a mesma coisa) é frequentemente o ponto de virada, e não o caminho a seguir.
  • Separe o Fato da Narrativa: Um incorporador lança um novo projeto com o slogan “Oportunidade Única!” (Narrativa). A corretora precisa buscar o Fato: Qual o preço médio por metro quadrado na região? Qual o volume de estoque não vendido? Qual a taxa de vacância? A narrativa é a emoção; os dados são a proteção.

2. Aplique a Lei do Esforço x Resultado (Wyckoff)

O método Wyckoff, que a Imobiliária da Mulher usa, é o antídoto perfeito para a Engenharia do Consentimento, pois foca na intenção por trás do movimento de mercado.

  • Identifique o Desalinhamento (Manipulação): Observe o Esforço (Volume de Transações ou Lançamentos) versus o Resultado (Aumento Real do Preço/Valorização).
    • Exemplo de Risco: Muita propaganda e muitos novos lançamentos (Alto Esforço), mas os preços não sobem na mesma proporção ou o imóvel não sai do estoque (Baixo Resultado). Isso sugere que o “dinheiro inteligente” está distribuindo (vendendo), enquanto o público está apenas comprando a história.
  • Foque na Acumulação Silenciosa: O dinheiro inteligente (o “Homem Composto” de Wyckoff) acumula em silêncio. A verdadeira oportunidade raramente é aquela que está na capa do jornal. A corretora deve procurar áreas com baixo esforço (pouca notícia, pouca propaganda) mas com fundamentos sólidos que sinalizam uma futura valorização.

3. Utilize o Protocolo de Análise Fria

Crie um conjunto de etapas de análise que devem ser seguidas antes de recomendar qualquer investimento, independentemente da pressão ou do buzz do mercado.

  1. Análise de Ciclo: Em qual fase do ciclo (Acumulação, Mark-up, Distribuição ou Mark-down) o ativo/região se encontra? Se estiver na Distribuição (euforia de vendas), a blindagem é vender, não comprar.
  2. Análise de Motivação: Por que essa informação/oportunidade está sendo divulgada agora? Quem ganha com minha decisão de compra/venda?
  3. Análise de Dados Não-Emocionais: Verifique a Taxa Selic, IGP-M, Variação do m² real, Renda Média da Região e a Infraestrutura em desenvolvimento (estradas, metrô, hospitais). Se os dados frios e econômicos não apoiam a narrativa, ignore a narrativa.
  4. Teste do Inconsciente: Lembre-se que a manipulação visa os desejos inconscientes (medo de ficar de fora, desejo de riqueza rápida, inveja do vizinho). A corretora deve se perguntar: “Se eu não tivesse medo de perder essa ‘oportunidade única’, os fatos ainda me fariam investir?”

A blindagem mais forte para uma corretora da IMOBILIÁRIA DA MULHER é manter o foco na ciência do mercado (dados e ciclos) e na autonomia de suas clientes, desvinculando-se ativamente da emoção de massa orquestrada pela Engenharia do Consentimento.

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